quarta-feira, 13 de abril de 2011

Problema?

É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom,bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Confissão

esperando pela morte 
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de 
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
"Hank!"
e Hank não vai responder
não é minha morte que me 
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto 
eu quero que ela 
saiba
que dormir todas as noites 
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas 
realmente esplêndidas
e as palavras 
difíceis 
que sempre tive medo de 
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sem título

"E minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil. Todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. Deus, todos eles tinham cus e órgãos sexuais e bocas e sovacos. Cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes quanto esterco de cavalo. As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora."

domingo, 26 de setembro de 2010

o que eles queriam ver

fiquei cansado de ir aos bares 
e depois fiquei cansado até de 
dirigir até a loja de bebidas, 
comecei a encomendar por 
telefone. 
eles me conheciam. 
alguns tinham lido meus livros. 
podia ouvi-los falando 
no fundo 
através do telefone. 
estavam discutindo sobre 
quem iria 
entregar o pedido. 
todos queriam entregar, 
eles queriam ver o 
circo de horrores: 
eu na porta 
com cabelo na cara, 
minha barriga de cerveja sob a camiseta, 
meus olhos vermelhos, 
minha barba por fazer, 
as garrafas no chão, 
as mulheres. 
eles queriam ver 
isso. 

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pouco me importa

"...sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava."

quarta-feira, 30 de junho de 2010

No bar

no fim da escada havia um bar. ouvi pessoas rindo. entrei no bar e me sentei. algum sujeito estava contando histórias sobre como sua mãe havia cuidado dele, fez com que ele tomasse aulas de piano e de pintura e como ele conseguia tomar dinheiro dela, de um jeito ou de outro. o bar inteiro estava rindo. comecei a rir também. o sujeito era um gênio, se desfazendo dele por nada. ri até que o bar fechou e nós nos separamos, cada um tomando caminhos diferentes.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Quem se importa

"Baby", eles começaram a me dizer, "você está bêbado."
e eu estou. e eu estou. e eu estou.
não há mais nada agora que eu possa fazer além de incomodar ou dormir.
eles arrumam um lugar pra mim.
eu bebo rápido demais. eles continuam conversando. eu os escuto delicadamente.
durmo, durmo entre camaradas, o mar não irá me afogar e nem eles. eles adoram meu corpo dormindo. 
sou um bunda-mole. eles amam meu corpo dormindo.
que todos os filhos de Deus cheguem a isso.
jesus jesus jesus
quem se importa com um morto

Que dia

"comecei a rir, ri tanto que caí no tapete e ela caiu em cima de mim e nós dois rimos rimos rimos, jesus cristo, rimos até pensar que estávamos loucos, então tive que me levantar, me vestir, pentear o cabelo, escovar os dentes, enjoado demais para comer, gemi enquanto escovava os dentes, fui para fora e caminhei em direção à fábrica de luminárias, só o sol se sentia bem mas você tinha que se contentar com o que tinha."

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Riam

"tenho visto intelectuais demais ultimamente. me canso fácil dos preciosos intelectos que precisam cuspir diamantes  toda vez que abrem suas bocas. eu me canso de ficar batalhando por cada espaço de ar para o espírito. é por isso que me afasto das pessoas por tanto tempo, e agora que estou encontrando as pessoas, descubro que preciso voltar pra minha caverna. existem coisas além da mente: há insetos e palmeiras e trituradores de pimenta, e eu vou ter um triturador de pimenta na minha caverna, portanto riam."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Nascer e morrer

"...entrei no elevador e subi para ir olhar no berçário. Devia haver uma centena de recém-nascidos ali, atrás daquele vidro, chorando. Sem parar. Esse negócio de nascer. E de morrer. Cada um na sua hora. A gente chega sozinho e vai-se embora do mesmo jeito. E a maioria passa a vida sem ninguém, assustada e sem entender nada. Uma tristeza indizível tomou conta de mim. Vendo todas aquelas vidas que teriam que morrer. Que primeiro se transformariam em ódio, em crime, em nada. Nada na vida e nada na morte."

domingo, 6 de junho de 2010

o fim de um breve caso

"tentei fazer o negócio de pé
dessa vez.
normalmente não costuma 
funcionar.
dessa vez parecia
que...


ela seguia dizendo
"ó meu Deus, você tem
pernas lindas!"


tudo estava bem
até que ela tirou os
pés do chão
e enroscou suas pernas
em volta dos meus quadris.


"ó meu Deus, você tem 
pernas lindas!"


ela pesava cerca de 63
quilos e ficou ali pesa enquanto eu
trabalhava.


foi só quando cheguei ao clímax
que senti a dor
correr espinha
acima.


deitei-a no sofá
e caminhei ao redor
da sala.
a dor continuava.


"olha só", eu disse,
"é melhor você ir. tenho
que revelar uns filmes
na minha câmara escura."


ela se vestiu e se foi
e eu segui até a 
cozinha para um copo 
d'agua. peguei um copo cheio
com a mão esquerda.
a dor correu além de minhas 
orelhas e
deixei cair o copo
que se espatifou no chão.


entrei numa banheira cheia de
água quente e sais Epsom.
recém tinha acabado  de me esticar
quando o telefone tocou.
ao tentar endireitar 
minhas costas
a dor se estendeu por
pescoço e braços.
caí pesadamente
me agarrei às bordas da banheira
consegui sair
com raios verdes e amarelos
e luzes vermelhas
lampejando em minha cabeça.


o telefone continuava tocando.
atendi.
"alô?"
"EU TE AMO!", ela disse.


"obrigado", eu disse.


"é tudo o que você tem
pra me dizer?"


"sim".


"vá à merda!" ela disse e
desligou.


o amor se esgota, pensei
ao caminhar de volta ao
banheiro, mais rápido
do que um jato de esperma."

melancolia

"a história da melancolia
inclui a todos nós.


eu, eu escrevo em folhas sujas
enquanto encaro fixamente as paredes azuis
e o nada


estou tão acostumado à melancolia
que
a cumprimento como a uma velha
amiga.


farei agora 15 minutos de sofrimento
pela ruiva perdida,
diga aos deuses.


faço isso e me sinto um tanto mal
bastante triste,
então me levanto
REVIGORADO
mesmo sabendo que nada está
resolvido.


isto é o que ganho por chutar
a religião no rabo.


deveria ter chutado o rabo
da ruiva
onde estão seu cérebro e seu pão com
manteiga
na ...


mas não, eu estava me sentindo triste
com tudo:
a ruiva perdida foi apenas outro
golpe numa longa vida
de perdas...


escuto uns tambores no rádio agora
e dou uma risada.


há alguma coisa errada comigo
além da
melancolia."

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sei como amar

"mulheres nao sabem como amar,
ela me disse.
você sabe como amar
mas mulheres só querem
parasitar.
hahaha, eu ri.
por isso não se preocupe por ter terminado
com Susan
porque apenas irá parasitar
outro homem.
falamos um pouco mais
então eu me despedi
desliguei o telefone
fui ao banheiro
e mandei uma boa merda de cerveja
e basicamente pensando, bem,
continuo vivo
e tenho a capacidade de expelir
sobras do meu corpo
e poemas.
enquanto isso acontecer
serei capaz de lidar com
traição
solidão
unhas encravadas
gonorréia
e boletim econômico do
caderno de finanças.
com isso
me levantei
me limpei
dei a descarga
e então pensei:
é verdade:
eu sei como
amar.
ergui minhas calças e caminhei
para a outra peça."

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Perdida

"vou embora, ela disse. eu te amo mas você é
louco, um caso perdido.
ela apanhou a bolsa e bateu a porta.
provavelmente é algum distúrbio profundamente enraizado na infância
que me faz assim vulnerável, pensei.
então sai de casa e fui até o meu fusca.
dirigi para o norte pela western com o rádio ligado.
havia putas caminhando pra lá e pra cá
dos dois lados da rua e Madge parecia
mais perdida que
qualquer uma delas."

domingo, 16 de maio de 2010

É assim as vezes

"tenho que pensar na morte mais e mais
senilidade
muletas
poltronas
escrevendo poesia púrpura com a
caneta pingando
quando mocinhas com bocas
de piranha
corpos como limoeiros
corpos como nuvens
corpos como flashes de luz
pararem de bater à minha porta.
não se preocupe com rejeições, parceiro.
fumei 25 cigarros esta noite
e você sabe sobre a cerveja.
o telefone tocou apenas uma vez:
era engano."