terça-feira, 28 de setembro de 2010

Confissão

esperando pela morte 
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de 
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
"Hank!"
e Hank não vai responder
não é minha morte que me 
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto 
eu quero que ela 
saiba
que dormir todas as noites 
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas 
realmente esplêndidas
e as palavras 
difíceis 
que sempre tive medo de 
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sem título

"E minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil. Todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. Deus, todos eles tinham cus e órgãos sexuais e bocas e sovacos. Cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes quanto esterco de cavalo. As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora."

domingo, 26 de setembro de 2010

o que eles queriam ver

fiquei cansado de ir aos bares 
e depois fiquei cansado até de 
dirigir até a loja de bebidas, 
comecei a encomendar por 
telefone. 
eles me conheciam. 
alguns tinham lido meus livros. 
podia ouvi-los falando 
no fundo 
através do telefone. 
estavam discutindo sobre 
quem iria 
entregar o pedido. 
todos queriam entregar, 
eles queriam ver o 
circo de horrores: 
eu na porta 
com cabelo na cara, 
minha barriga de cerveja sob a camiseta, 
meus olhos vermelhos, 
minha barba por fazer, 
as garrafas no chão, 
as mulheres. 
eles queriam ver 
isso.